25 de Julho - Dia da Mulher Negra, Latinoamericana e Caribenha.

Neste Julho da Pretas de 2021 o Empodere Sua Irmã conversou com Eliane Cristina, Mulher Negra e Reverenda da Diocese Anglicana do Recife – IEAB sobre sua vida e ministério.
01. ESI – Reverenda Eliane Cristina, é um prazer para nós da equipe do Empodere Sua Irmã dialogar com você e poder partilhar de sua experiência pessoal e ministerial no contexto da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, então para iniciar essa boa prosa nos fale um pouco sobre você e sua comunidade.
Revda. Eliane Cristina: Obrigada, Bem, sou Eliane Cristina Vieira, professora e Presbítera da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, servindo na Paróquia Anglicana Boas Novas em Caaporã/PB e a Missão Maria Madalena em João Pessoa/PB. São comunidades pequenas, porém com celebrações e atividades pastorais regulares. Momentos de oração, batismos, celebrações da Santa Eucaristia; pastorais da Mulher, LGBTQIA+ e pessoas idosas. Na Paróquia das Boas Novas desenvolvemos dois Projetos Sociais há 10 anos: Sabor da Vida e Festas – Doces e Salgados de festas voltado para as Mulheres e “Que Massa” Pães (adolescentes e jovens. Em João Pessoa, vamos começar um Projeto Social com oficinas de Bolos de potes para adolescentes, mulheres. Enfim, nos colocamos à disposição da comunidade para servir e procurar transformar as estruturas injustas da sociedade oportunizando melhores condições de vida para as pessoas em situação de risco e com vulnerabilidades.
02. ESI - Como você percebeu sua vocação ministerial?
Revda. Eliane Cristina: Percebi meu chamado para o ministério e minha vocação ainda quando adolescente. Meu envolvimento com todos os ministérios da Igreja; a chama ardente do amor de Deus pelas pessoas mais carentes para que pudessem mudar suas realidades de opressão e injustiça social. Tinha enorme satisfação de participar dos “mutirões missionários” onde as pessoas podiam aprender mais sobre Deus e assim, fossem libertas dos jugos e vícios. Apesar de experienciar uma fé numa Igreja conservadora e anti-ecumênica, sempre vivi uma fé libertadora e, por isso, quebrava as normas e as regras. Só depois, na fase adulta, quando eu tinha meus 27 anos foi que conheci a IEAB – Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
03. ESI - Porque você escolheu viver seu ministério ordenado na IEAB?
Revda. Eliane Cristina: A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) é onde me sinto realizada. Posso viver a experiências das várias Teologias com convicção de que as pessoas, os demais seres, o universo, a natureza são expressões do sagrado e quando buscamos verdadeiramente o bem-estar comum há uma conexão com a Força Criadora ( Ruah, Javéh, Deus , Oxalá ...) E o que mais me encantou na IEAB foi “As Marcas da Missão”, acredito ser o Evangelho Completo, integrador do Nosso Senhor Jesus Cristo.
04. ESI - Quando sua consciência de Mulher negra nordestina surge e como essa condição interfere em seu ministério pastoral?
Revda. Eliane Cristina: A minha consciência de mulher negra nordestina se deu depois de muito “penar”. A minha família é de ancestrais índios, caboclos e negros. Porém, não fui educada para não ter preconceito, muito embora tendo toda essa miscigenação, mas não me reconhecia como negra. Sofri muito preconceito por causa dos meus cabelos (afros, nem sei se era mesmo) era uma transição; porém eu fazia o possível para “alisá-los”. Só depois, de bem adulta é que aceitei a minha negritude e comecei a combater o racismo e a discriminação que está muito entranhada nas brincadeiras e em alguns comportamentos e ações nas famílias e nas escolas.
Enquanto Reverenda ou “Pastora”, tenho na maioria das vezes que me impor, por conta do meu jeito , das minhas colocações e posicionamentos com relação ao Diálogo Inter-religioso estando mais próxima das Religiões afro já que as Igrejas Cristãs se fecham para o diálogo e ao acolhimento às pessoas homoafetivas. No geral, não me importo com a forma como me “olham”, sigo resistindo e fazendo o que sinto que seja da vontade divina: O amor e a misericórdia para com todos os seres, pessoas e toda forma de amor.
05. ESI - Quais desafios a IEAB precisa superar para vivenciar uma equidade de gênero e raça em sua estrutura teológica e eclesiástica?
Revda. Eliane Cristina: Penso que a IEAB – Igreja Episcopal Anglicana do Brasil está no caminho do debate, diálogo, do acolhimento. É uma Igreja que está sempre além do seu tempo. Porém, ainda falta o envolvimento, a coesão das mulheres, principalmente que exercem liderança, para se fortalecerem e não deixarem que os “homens” possam dominar as instâncias do governo maior da Igreja. Assim, como há corporativismo entre os homens para indicar quem tem perfil para Bispo ou de assumir representatividade fora do Brasil, que as mulheres também possam ser mais solidárias; e fortaleçam os laços sororais entre nós.
06. ESI - No dia 25 de Julho celebramos o dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, qual o seu recado para as meninas, mulheres negras que estão se despertando para a busca do empoderamento no contexto de uma sociedade patriarcal e racista?
Revda. Eliane Cristina: Meu recado é que as meninas e mulheres negras, andem de cabeça erguida, assumam sua identidade, se valorizem pela sua cor, pelos seus cabelos, seu gingado que é bem marcante diante de sua luta. Procurem mais a cada dia dentro de toda forma de conhecimentos não se intimidar pelos “nãos” e as portas que na maioria estão fechadas. Criem, recriem, renovem-se e lutem pelos seus objetivos porque vale a pena viver a liberdade de ser o que a pessoa é. E com a convicção de que Deus, a Ruah divina está cuidando e zelando por todas.
ESI - Querida Reverenda Eliane Cristina, nós agradecemos a partilha e desejamos que que as Mulheres Negras Latino Americana e Caribenhas continuem suas lutas por justiça e equidade de gênero e raça em nossa sociedade, mas de modo particular nos espaços de fé ainda tão marcados pelos preconceitos de gênero e raça.