Dia da Consciência Negra

NÓS PODEMOS MUITO MAIS!
Por Mary Joyce Rocha
Somos únicas! Mas somos tantas, tantos jeitos, trejeitos, cores: retintas ou pele mais clara, somos incríveis, somos raras! Somos mulheres pretas e não cabemos em nenhuma caixinha, por isso somente um dia 20 de novembro, embora importante, não é suficiente para nós. Todo dia tem que ser 20 de novembro para que nunca esqueçamos quem somos, de onde fomos forjadas e da resistência que nos trouxe e nos mantém até aqui.
Precisamos travar uma luta diária contra o racismo. Saber que ele existe sob todas as formas, e é cruel, e nos faz sangrar, e adoece, e mata. E é indispensável ter um olhar enegrecido para percebê-lo, ainda que nas formas mais sutis, mesmo quando, conscientemente, decidimos, simplesmente, dar as costas e continuar nosso caminho. Mas não pode ser só isso. Também precisamos viver e ser feliz!
Mana, eu sei que carregamos 350 anos de escravidão e não quero minimizar nenhuma cicatriz da objetificação violenta dos nossos corpos pretos, tampouco desejo que esqueçamos a nossa ancestralidade, a solidão afetiva de muitas de nós, mas neste 20 de novembro de 2021 te convido a ser protagonista de uma nova história, onde a luta é constante, mas a liberdade é a meta.
Para nós todo dia tem que ser 20 de novembro, dia de resistência, dia de liberdade, dia de dizer não aos rótulos. Não, não precisamos falar somente sobre racismo, temos muitas competências, habilidades e conteúdos a compartilhar e ensinar. Por isso, qualifique-se, pois não temos privilégios, sabemos, né?!
Nossas histórias estão nas nossas mãos, pois cada uma de nós não carrega somente a sua própria história, mas a história de todas as que nos precederam, a história das que estão conosco agora e a história das que virão. E cada vez que esse ciclo recomeça, ele reflete todas as transformações que cada geração protagoniza, cada espaço conquistado e reconquistado. E assim como recebemos os frutos das lutas transformadoras da nossa ancestralidade, da mesma forma precisamos deixar espaços livres e seguros para as nossas meninas. Então, vamos ler autoras pretas, contratar pessoas pretas, apoiar as iniciativas do povo preto, o empreendedorismo de gente preta, ampliar os espaços e dar visibilidade para as manas pretas falarem.
Ah, mulher preta, sim, tua cor é linda, teu cabelo é lindo, teu corpo é templo e tem que ser respeitado. Podes usar o cabelo que quiseres, a roupa que quiseres, ser o que quiseres! NÓS PODEMOS MUITO MAIS!